quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Carta 3

Évora, 12 de Agosto de 18…


Querido e adorado sobrinho,

Como estás? Como estão todos ai em casa? Como estão os ânimos da nossa família?

Ouvi dizer que a tia Júlia mudou-se para a casa da praia. Para lá viver durante uma temporada, é verdade? Estranha-me, pois ela sempre gostou de viver naquela casa, nunca quis de lá sair… mas fico feliz por ela; pelo menos agora poderá realizar o seu grande sonho: viver sozinha, em paz, sem a possibilidade de ser incomodada!
Gostaria de poder visitá-la, mas como sabes, agora não há possibilidades... Mas desejo, do fundo do meu coração, que ela seja muito feliz!

A tia Margarida, como está? Ela viajou para os Estados Unidos, mas já voltou, não foi? Depois podias pedir-lhe que me escrevesse a contar a sua viagem? Gostaria muito de conhecer o estrangeiro, mesmo que fos-se através das palavras de outra pessoa!

E o Rodrigo? A ler, como sempre, não? Sim, é um bom hábito; um há-bito que nós tínhamos (lembras-te?..), mas perdemos… Mas acho que o Rodrigo ainda fará com que voltemos aos velhos costumes…
Diz-lhe que eu gosto muito dele, e que qualquer dia lhe escrevo, sim? Como sabes, eu não tenho muito tempo, pois trabalho todo o dia na casa… e não posso ir vos visitar, estamos em dias de festa: haverá um casamento muito em breve; a filha da minha ama está noiva do filho mais novo do Sr. Silveira, o melhor amigo do senhor desta casa. Fazem um belo casal!

E agora tu, meu bom amigo: diz-me, Rafael, como te sentes? Como está a ser a tua nova vida? Estás a gostar da casa?
Sei que pode ter sido muito difícil aceitar a mudança; afinal de contas, tu amavas viver na Holanda… Mas tens de perceber que o teu irmão necessita de alguém que lhe apoie… alguém que esteja ao seu la-do, sempre que ele precisar.
Também sei que achas a casa demasiado grande para ti, e que te traz demasiadas recordações… mas tu não podes querer fazer com que elas de-sapareçam, ou simplesmente fingir que nunca existiram… porque são be-las, Rafael; essas lembranças são belas, e são tuas. Só tuas. Não te esqueças disto: os teus pais queriam que tu e o Rodrigo fossem felizes, mesmo quando já não cá estivessem. Claro que ninguém vos pede que não chorem a sua perda, que não sintam dor quando pensem neles, mas só queremos que vocês saibam que eles estão bem; que eles estão num sí-tio melhor, e que estão felizes porque o seu mundo é feliz; e porque sabem que vocês estão a ser bem cuidados.
Tu e o teu irmão têm fantásticas pessoas que cuidam de vocês; têm tias maravilhosas que nunca vos desampararão! Talvez devesse estar ai; talvez devesse apoiar-vos mais; talvez devesse ser eu a criar-vos. Eu e a tua mãe éramos muito unidas, muito amigas e companheiras…
Mas, e a vossa madrinha? Por onde anda? Nunca mais a vi desde o…
Na verdade, desde aquele dia que não vejo ninguém…

Não sei que mais hei de dizer-te meu querido; amo-te muito e também ao teu irmão. Quero-vos mais que a tudo; o meu mais profundo desejo é estar ao pé de vós. Quero cuidar-vos, quero vê-los crescer, quero ser parte da vossa vida… mas simplesmente não sei como o hei de fazer…
Precisaria de ajuda; precisaríamos de todos…

Meu querido, sobre mim só precisas saber que estou bem, dentro dos possíveis… Esta casa é de loucos, mas aguenta-se bem.
Até à tua próxima carta, meu querido. Fica em paz.


Beijos e fortes abraços da
tia que vos ama do fundo do seu coração,
Susana.



P.S.: Podes, por favor, pedir ao meu pequenote, ao meu Rodrigo, que me envie algo, quando responderes? Sei que ele gosta muito de desenhar… como acontece como todas as crianças.

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