terça-feira, 27 de outubro de 2009

Carta 4

Lisboa, 26 de Agosto


Querida e amada tia e amiga,

Antes de te contar como têm sido estes meses, quero, do fundo do meu ser, agradecer-te por tudo o que nos tens dito, pelas tuas doces palavras. Quero também pedir perdão por não ter respondido antes, mas simplesmente não conseguia… tentava, mas não podia. Não sei… acho que… não queria mostrar os meus verdadeiros sentimentos; não queria que pensasses que eu sou fraco; que não sou já homem suficiente para enfrentar a dor, para enfrentar a mágoa. Ma graças a ti, tia, agora sei e percebo que não há mal nenhum em deixar que os sentimentos se vejam; que não há mal em sentir… ainda que o que se sinta não seja bom; ainda que o que s sinta seja doloroso.

Mas falemos de coisas mais alegres: embora seja verdade que no princípio eu não quisesse estar aqui, agora o que eu mais gosto, depois de conviver com o meu irmão e a tia Margarida, é estar nesta casa. Conhecê-la tem se revelado algo magnífico, algo mágico, até. Descobrir os seus jardins; os seus cantos; as suas fontes e as suas águas; os seus esconderijos; o seu ar e o seu espírito: tudo isso faz-me ver que a vida é algo mais do que choro e tristeza; a vida é alegria, é apreciar e amar o que temos à nossa volta, é conhecer e aprender. Sei que ainda tenho muito para crescer, mas também sei que terei a tua ajuda!

Rodrigo! Sim, tens razão: ele é muito inteligente e vivo, também! O nosso relacionamento tem melhorado bastante: ele quer sempre brincar comigo. Ah, e ele ama estar no jardim, esconder-se nele, ser parte dele. Acho que ele descobriu uma nova paixão: the nature! Ele está bem, apesar de falar dos pais todas as noites: lembra-se deles constante-mente, e isso é bom, claro, mas acho que ele devia ocupar a sua jovem mente com outras coisas.

A tia Margarida já voltou da sua viagem, é verdade, mas ela tem estado muito ocupada com certos assuntos… mas não te preocupes: ela irá escrever. Contar-te-á todos os pormenores da sua viagem, e do que lá se passou; pelos vistos foi muito especial… muito… emotivo, poderíamos dizer!

A tia Júlia está muito feliz com a sua nova life na praia!
Reencontrou velhos amigos, os quais não via há muitos anos, pelo que parece. Ela diz que certamente ficará na casa até depois do final de ano, mas que passará o natal connosco. É sempre bom passar esta doce época com aqueles que te são queridos. Pelo menos foi isso que ela disse…

E por fim, minha amiga, dizer-te que é clro que me lembro dos velhos tempos: das nossas leituras nocturnas; das nossas fugas; das nossas inocentes brincadeiras… Como pudeste pensar que eu alguma vez poderia esquecer tão belos e mágicos momentos? Isso seria, além de impossível, imperdoável! Jamais o farei: prometo-te!

O Rodrigo pede que lhe escrevas; o nosso pequeno anjo gostaria de receber de ti o carinho que tens para dar. Sabes, ele gosta muito de ti. Compartimos um profundo desejo: que cá estejas, connosco, para nos cuidar e guiar.

Deixo-te, querida tia, com a profunda certeza de que me perdoas, e que poderás cá voltar muito em breve.

Um beijo muito forte dos teus sobrinhos
que muito te amam.

Rafael

P.S.: A tia manda dizer que assim que puder te escreverá, e diz para te preparares, pois grandes surpresas te esperam…







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